Cavalera
Cavalera em ritmo punk-rock-glam
O metal pesado da Mix Hell, banda capitaneada por Iggor Cavalera e a mulher, Layma Leyton, conferiu ritmo rocker ao desfile da Cavalera, que abriu o line up deste São Paulo Fashion Week. O cenário, a Galeria do Rock, reforçou o mood da coleção, centrada numa paleta escura, com predominância de pretos em nuances variadas de acordo com o tecido – o jeans, por exemplo, ganhou lavagem “empretecida”, como a marca denomina o efeito obtido com fuligem e resina.
É um inverno rico em texturas e modelagens, apesar do tom nonchalant. Renda de algodão, lã fria com seda e sarjas exibem superfícies ora metalizadas, ora bordadas manualmente, além de shapes contrastantes que têm em comum a técnica precisa da alfaiataria. Assim, o blazer boyfriend divide o mesmo guarda-roupa com o minivestido corseletado inspirado na cantora Rihanna. Microshorts e saias ganham cara de inverno graças a meias grossas e foscas. Paetês, metais redondos e estampas metalizadas finalizam o efeito punk-rock-glam proposto pelos estilistas Fabiano Graça e Igor de Barros. “É uma coleção comercial, sem que a gente de preocupe com o comercial. Nosso foco é o lifestyle”,explica a dupla. Não à toa, frequentadores assíduos da Galeria do Rock – incluindo o ex-Titãs Paulo Miklos, que estreou na passarela com a sensação de estar em casa – passearam tranquilamente entre os modelos.
Ellus
To jeans or not jeans
A Ellus está confortável em seu posicionamento de marca numero um do segmento de jeanswear nacional. Isso posto, fica fácil entender o desfile composto quase que 100% por um jeans encerado que Adriana Bozon mandou patentear, o leather denim. O efeito é tão fiel ao couro que a dúvida cruel “ser ou não ser (couro)?” norteou toda a apresentação – couro foi uma das poucas concessões ao tal jeans encerado.
O tema do inverno da Ellus, “roupa que protege” é “desculpa” para uma coleção sexy e pervertida de viés esportivo. As guerreiras urbanas da grife elegem microshorts, minissaias, tubinhos body-con, bomber jackets e parkas como peças-chave. As jaquetas e capas diversas crescem, aparecem e acabam virando vestidos, recurso que otimiza o uso das peças e apareceu de monte nas passarelas internacionais.
E para quem espera o desfile da Ellus para saber qual o shape de calça da vez (foram eles que hyparam o modelo boyfriend, lembram?), anote: a nova modelagem slim , de gancho baixo e perna afunilada, divide a cena com a super-skinny e a clochard.
Rosa Chá
Injeção de animo
Triton
Liberdade e diversão na Triton
Osklen
Inverno quadrado
Oskar Metsavaht decidiu que o mundo já tem muito glitz, glam e kitsch. Em sendo assim, levou às últimas conseqüências os conceitos de minimalismo, utilitarismo e esporte que despontaram na temporada de verão 2010 internacional e oferecem uma bem-vinda lufada de limpeza arquitetônica num momento em que o fast fashion desgastou as fórmulas brilho + sexo + kitsch.
A inspiração veio em dia com o zeitgeist interplanetário do recycle-chic. A Osklen fez um mélange de todas as suas coleções de verão passadas. Prints, formas e tecidos vieram daí. “É um desafio fazer inverno em uma marca reconhecida pelo lifestyle praiano num país tropical. Foi dessa dificuldade que nasceu o tema “, justificou Oskar em seu backstage. Ficaram supercool as poucas estampas: Vogue aprovou a tropical-dark, com megaflores em fundo preto, e a da paisagem cartão-postal do Rio de Janeiro (Prada fez no verão, lembram?).
Mas a epítome da coleção são mesmo as formas arquitetônicas. Maiôs, hotpants e vestidos de feltro (aquele chape camiseta que é marca registrada da grife) ganharam formas quadradas em 3D que deram vida a ombreiras, peitilhos, saias e mochilas. Bem boas as peças de tressê, sobretudo o body-armadura creme com que Carol Pantoliano fechou o desfile. Interessantes também os maxicasacos e vestidos longos de tricô de pontos largos e abertos, com pegada homeless mas resultado final elegante. Em um mimo as luvinhas com punho quadrado em alto relevo.
Iódice
Voo sobre a Amazônia
O tropicalismo que inspirou as coleções resort de importantes marcas internacionais aparece em conta-gotas no inverno 2010 brasileiro. A Iódice, primeira marca a desfilar nesta terça-feira, focou a tendência na Amazônia. Foi pesquisando usos, costumes e flora amazonense que Valdemar Iódice chegou às mulheres pássaros que “aterrissaram” na passarela montada no último andar do Shopping Iguatemi.
Com 100% dos looks compostos sobre leggings – tinham as de malha cirrê (com e sem brilho), as de renda de algodão in natura produzida em Maceió e as cobertas de paetês -, a coleção veio centrada em pretos e beges com passagens pelo laranja, amarelo-açafrão, branco e dourado. Minivestidos drapeados moldados em jérsei seco, mais fosco que a versão original do tecido, dominaram a primeira fase do desfile, enquanto o encerramento ganhou influências de militarismo e oscilou entre a sensualidade das amarrações tipo corset, a elegância do veludo e a sofisticação do couro certificado de crocodilo da Amazônia, usado em carteiras, sandálias e no poderoso coletinho da sequência final.
A marca usou ao máximo elementos conectados com a floresta para sustentar a temática. Plumas, sementes, palhas e couro de pescada amarela apareceram principalmente nos acessórios desenvolvidos pela designer Francesca Romana Diana. O toque final ficou por conta das luvas pretas usadas por todas as modelos. No saldo, Valdemar Iódice reforça a ênfase no mercado internacional ao apostar num viés brasileiro respaldado e em shapes e texturas em sintonia com a moda globalizada.
Da fisica quantica a suavidade das plumas
Para falar do inverno 2010 de Glória Coelho é preciso voltar no
tempo, mais precisamente ao desfile deste verão. Ainda estão muito
presentes na memória dos fashionistas os vestidos-escultura com
faixas horizontais aerodinâmicas deslocadas do corpo.
Provando mais uma vez que é possível dar continuidade a um
pensamento de moda e que uma das vantagens da peça autoral é sua
longevidade no guarda-roupa, a estilista abriu o desfile de hoje
enfatizando esse mesmo shape, mas alternando o sentido das faixas de
cetim de seda off white e gelo. O contraponto entre transparente e
fosco (claro/escuro) foi outro recurso interessante.
Esse desdobramento ajudou a traçar paralelo dos looks com a lista -
sempre inusitada – de inspirações de Glória e, desta vez, também
com dois dos patrocinadores do desfile: o BMW Vision – carro
conceito que adianta o visual dos modelos esportivos no futuro – e
as placas que transformam raios solares em energia da Transsen e que
deram à passarela o cenário futurista perfeito para a apresentação
da coleção Macro e Micro (A Natureza Ama Esconder-se).
Do minimalismo vanguardista o desfile evoluiu para volumosas formas
orgânicas construídas em tule com fita honduras, para então chegar
à suavidade dos detalhes: “mil folhas” esvoaçantes e plumas dos
vestidos e casacos que fecharam o desfile. É como se Glória quisesse
nos mostrar que o futuro pode ser prático e ecologicamente correto
sem que a mulher precise perder feminilidade e doçura.
Dois pesos, duas medidas
Com um time capitaneado pelo ator Cauã Raymond e pelas angels Alessandra Ambrósio e Izabel Goulart, a Colcci fechou o primeiro dia da edição inverno 2010 do São Paulo Fashion Week com a sua melhor coleção das últimas temporadas. A estilista Jessica Lengyel apostou (e acertou) no mix de materiais com pesos diferentes, cores envelhecidas obtidas com lavagens sucessivas e cartela chique e empoeirada, além de poucos e bons acessórios (luvas, meias grossas e boots) e comprimentos contrastantes (do shortindo ao saião). Usadas em todos os looks, camadas e mais camadas de peças com volumes e tecidos de pesos opostos construíram com perfeição a imagem dos andarilhos urbanos, tema desta coleção. Vale, aqui, abrir parênteses para o equilíbrio entre as linhas feminina e masculina.
O desfile foi dividido em duas partes. Na primeira, rosas e cinzas deram o tom a peças mais pesadas, com destaque para os ótimos tricôs, o couro manchado e os jeans tinturados e envelhecidos em lavanderia. Na sequência, veio o verde batizado de floresta, valorizado por tachas. Vestidos e blusas de babadinhos de tela de seda com peso-pluma mostraram-se perfeitas para o inverno tropical brasileiro. Já os tricôs handmade poderosos – cachecóis, xales e maxipulls – funcionaram como link para a coleção. A idéia é usá-los sobrepostos a peças mais leves. Missão idêntica possuem as pelerines e os ponchos de lã, enquanto a capinha e a bermuda de plástico transparente sugerem uma divertida solução para os momentos chuvosos – como o que pegou de surpresa os fashionistas no fim do desfile.
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